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Resumo
O objetivo do artigo é refletir sobre dois aspectos centrais para a compreensão do valor da mobilidade na sociedade cabo-verdiana, os processos de produção de familiaridade e suas relações com os valores da casa e do viver junto. Tendo em vista que tratamos de um contexto em que os deslocamentos são estruturantes e que estamos diante de famílias engajadas em circulações em diversos níveis, meu interesse é analisar tais universos a partir de dois eixos: as trajetórias de mobilidade e a construção de proximidade nesse universo marcado por uma importante circulação de pessoas, coisas, valores e dinheiro. Os dados analisados são resultado de mais de 15 anos de pesquisa no arquipélago, em duas ilhas em particular, a Ilha da Boa Vista e a Ilha de Santiago, e tendo como ponto de partida os universos familiares daquelas que denomino de “famílias espalhadas”. Meus interlocutores são tanto aquelas pessoas que ficaram nas ilhas e vivenciam as dinâmicas migratórias a partir do local quanto aqueles emigrantes que retornam à terra e à casa, seja periódica ou definitivamente. É, portanto, nesse universo entre o ir, o voltar e o ficar que se assentam minhas reflexões.
Resumo
A história do Islão e dos muçulmanos no Portugal contemporâneo está indelevelmente marcada pelas dinâmicas coloniais, mas também por processos pós-coloniais. As próprias configurações institucionais do “Islão público” na sociedade portuguesa revelam esta importância e, simultaneamente, criaram as condições para uma hierarquização de determinadas vozes e projectos entre os muçulmanos.
Partindo de três pesquisas sustentadas em trabalho de campo etnográfico sobre a Associação Islâmica e Cultural da Margem Sul, que representa a congregação afecta a uma mesquita de inspiração sufi no concelho de Almada, a Noor Fatima, um projecto caritativo encabeçado por uma mulher muçulmana de origem indo-moçambicana, e o Centro Islâmico do Bangladesh (CIB), envolvido no projecto da construção da nova praça da Mouraria, o objectivo deste artigo é demonstrar, por um lado, que esta hierarquia se sustenta em discursos dominantes sobre o Islão, que sublinham uma clivagem entre “muçulmanos portugueses” e “outros muçulmanos”, e, por outro lado, que existem margens que contestam esses discursos, revelando interessantes (des)articulações entre mobilidades, dinâmicas coloniais e pós-imperiais, políticas de reconhecimento e a produção de alteridades.
Resumo
Este artigo discute a forma como os jornais portugueses Público e Expresso veicularam o fenómeno da recente emigração portuguesa para o Brasil. Com base nos métodos de análise crítica do discurso e análise de enquadramento, o artigo coloca em evidência, primeiramente, as representações sobre o Brasil e os emigrantes portugueses para este país. Seguidamente, demonstra como algumas dessas representações contemporâneas dialogam com algumas outras forjadas no século XIX, no momento do apogeu da emigração portuguesa para aquele território do continente americano, já após a sua independência de Portugal. Finalmente, o artigo elucida como uma certa leitura da identidade portuguesa foi mobilizada para caracterizar esses novos emigrantes.